Antes de sair pra uma trilha seguimos uma rotina básica que
inclui abastecer o jipe, verificar os equipamentos, conferir o rango e dar as
orientações ao Zequinha. Esse “passo a passo” do pré-trilha é importante pra
não se estressar durante o passeio sem combustível, sem comida, sem água, sem
uma cinta ou manilha, etc.! Mas quando alguma coisa dá errada, como agir? O que
fazer primeiro?
O que eu faço agora?
O artigo 135 do código penal Brasileiro trata da omissão de
socorro. Em seu texto ele diz que todo cidadão é obrigado a prestar auxílio a
quem esteja necessitando, tendo três formas para fazê-lo: atender, auxiliar
quem esteja atendendo ou solicitar auxílio, sob pena de prisão ou multa em caso
de negativa. Mas como fazê-lo de uma forma eficiente, sem se arriscar e sem
piorar ainda mais o estado das vitimas?
Independente da origem ou gravidade do problema ou acidente
existem protocolos específicos pra atendimentos de emergência. Estes foram
feitos para tentar minimizar os riscos de danos permanentes (alem da morte), e
de tentar evitar que mais vitimas sejam geradas.
Os 10 mandamentos do socorrismo!
- Mantenha a calma é fundamental! Ninguém merece alguém dando petit em uma situação que já não esta boa!
- Tenha em mente a seguinte ordem de segurança quando você estiver prestando socorro: PRIMEIRO EU (o socorrista) - DEPOIS MINHA EQUIPE (Incluindo transeuntes e curiosos) - E POR ÚLTIMO A VÍTIMA. Apesar de isto parece ser contraditória a primeira vista, a ideia básica é não gerar novas vítimas.
- Ao prestar socorro, é fundamental ligar ao atendimento pré-hospital de imediato, agilizando o tempo para chegada de auxilio externo. Marque um ponto de encontro onde você sabe que a ambulância pode chegar.
- Sempre verifique se há riscos no local, antes de agir no acidente. Se você rolar o barranco junto você vira mais uma vitima e não poderá mais ajudar em nada.
- Mantenha sempre o bom senso. Boca a Boca na mocinha bonita sem avisar o namorado grandalhão pode não ser uma boa ideia.
- Mantenha o espírito de liderança, pedindo ajuda e afastando os curiosos.
- Distribua tarefas, assim os demais que poderiam atrapalhar lhe ajudarão e se sentirão mais úteis (mesmo que seja indo procurar uma flor milagrosa que você viu no inicio da trilha).
- Evite manobras intempestivas (realizadas de forma imprudente, ou com pressa).
- Em caso de múltiplas vítimas dê preferência àquelas que correm maior risco de vida como, por exemplo, vítimas em parada cardiorrespiratória ou que estejam sangrando muito.
- Prestar socorro não é entrar em um carro em chamas com a faca na boca e a faixa do Rambo! Seja socorrista e não herói (lembre-se do 2o mandamento)
O passo a passo do socorro!
Protocolos vem sendo estudados desde a década de 60, e estes
tem sido avalizados e aprimorados por pesquisas e estudos em todo mundo. Atualmente,
a American Heart Association (AHA) é quem estabelece as diretrizes de
atendimento de emergência através dos protocolos de BLS (Basic Life Support),
que é um curso aberto a quem queira ser um socorrista certificado.
Então, o que fazer primeiro?
Atualmente, a AHA preconiza que a ordem ideal de atendimento
vem da sigla CAB (Compressões torácicas, Abertura de Vias Aéreas e Ventilação)
(IMAGEM RCP 2011 – CAB)
C – Compressões Torácicas:
As compressões são dadas na altura do coração, cerca de dois
dedos acima do processo xifoide ou entre os mamilos (ver foto). As compressões
devem ser suficientes para comprimir o tórax em cerca de cinco centímetros e
retornar (Para uma RCP eficiente, os braços devem ser mantidos esticados sempre
e o tronco do socorrista é que desce). É importante comprimir e depois soltar
completamente (o coração é uma camara e precisa de tempo para encher depois de
ser esvaziado por uma compressão). A frequência de compressões deve ser de
aproximadamente 100 vezes por minuto (um jeito de tentar manter o ritmo é
contar 1001.. 1002.. 1003...), mantendo um ângulo de 90º dos braços sobre o tórax da vitima, que também
é fundamental para uma boa RCP.
A massagem cardíaca não deve ser feita por uma só pessoa por
mais de 2 minutos (estudos demonstram que o socorrista se cansa e perde sua
eficiência depois desse tempo). Porem, se só você sabe ou é capaz, faça direto,
o quanto aguentar.
A – Verificar Vias Aéreas
Depois de 30 compressões, é pode-se verificar se a vitima
responde, e, nesse momento é a hora de abrir as vias aéreas e verificar se algo
obstrui a passagem do ar (NUNCA coloque a mão na boca de uma pessoa
inconsciente, apenas olhe e só se houver algo, tente retirar com alguma pinça
ou algo do gênero).
B – Ventilar!
Se não há nada visível obstruindo a passagem do ar, e você
não sente que ele entra ou sai, é hora de tentar a famosa respiração “Boca a
Boca”. Apesar de todo preconceito gerado sobre ela (às vezes o colega acorda e
nem te liga na manha seguinte) a respiração boca a boca não se trata de
caricias entre amigos íntimos! Para realizá-la é preciso cobrir a boca da
vitima com a sua, tampar o nariz da vitima e soprar com força.
Ninguém é obrigado a colocar a boca em ninguém que não se
conheça (isso gera risco de contaminação e ninguém deve se expor a riscos que
não julga necessário). Essa prerrogativa é garantida por lei e pelas diretrizes
de atendimento de emergência.
Normalmente, uma respiração de emergência (nome técnico da
respiração Boca a Boca) gera bons resultados e a pessoa acorda. Obviamente que
isso vai depender do tamanho e da gravidade do acidente e do quadro da vitima.
Caso você não ache que isso pode ser feito (há vomito,
sangue ou qualquer outra coisa que lhe impeça ou que lhe gere algum risco)
mantenha as 100 compressões por minuto revezando com mais alguém que conheça
RCP de 2 em 2 minutos.
Não há como ensinar RCP em um artigo, por isso é importante
que quem deseje aprender o que fazer na prática procure um curso de primeiros
socorros ou de BLS para um treinamento pratico em sua cidade.
Evitar acidentes é dever de todos, mas como nem sempre é
possível, caso aconteça com você ou seus amigos, é sempre bom estar preparado e
saber o que fazer.
Lembre-se sempre: Segurança em primeiro lugar !!
Dr.
Felipe Marx (Ft./Sc.)
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